Transformamos em cerâmica cascas e sementes da flora brasileira, nativas ou não. Chamamos de cascas o invólucro que faz a função de útero e mantém as sementes protegidas até a maturação: cabaças, cuités, cacaus, sapucaias, abricós de macaco, entre tantas outras cascas que existem em nosso país.
Há anos que estas cascas são usadas como utensílios domésticos, de caça e até musicais, pelos povos originários. Buscamos conhecê-las, onde existem em nossa cultura e de que modo estas cascas fazem parte da formação da nossa identidade. Através de andanças registramos as cascas encontradas e como são usadas pelos nativos em cada região. Após isso, retiramos das cascas seus vazios em fôrmas de gesso onde serão reproduzidas - como reencarnadas -, e eternizadas em cerâmicas que, tal como as cascas, necessitam dos mesmos elementos básicos para existir: água, fogo, ar, terra e minerais.
Acreditamos que toda casca traz em si o local de onde veio, seus costumes, as falas de seu povo, toda esperança e crenças, rezas, benzas, o medo, o tempo conforme os pássaros, o mato. Trazê-las para a cerâmica é dar mais vida ao que, de forma singela, sempre nos foi útil. Fazê-las viver em cerâmica, para nós, é também aproximar memórias.
Assim como as cascas, criamos em cerâmica outras peças que ocupam as prateleiras das memórias brasileiras, como as latas de sardinha que para tantas crianças foram pequenas fôrmas de bolo preparados pelas avós ou mães, os copos lagoinha (americanos, Nadir Figueiredo), que estão presentes na vida boêmia do país, entre tantas outras memórias que desejamos resgatar, conhecer e transformar.
Contamos com vocês nessa caminhada!
Jessica e José Alberto